Mergulho em água Mineral na Baviera

*Por Maurício R. P. Chivante, divemaster, que na elaboração deste trabalho contou com a contribuição técnica da Divemaster Juliana Pisaneschi e com a editoração do Instrutor Gustavo Beolchi, todos membros da equipe da Aqualander Mergulho.

A preparação

Quando acordei hoje, 13 de dezembro de 2015, domingo, às oito da manhã, o Sol mal havia nascido e meu equipamento já estava todo pronto e arrumado no carro. Ao sair de casa às dez e meia a temperatura ambiente era de 2 °C, e mal sabia eu o que esperar desse mergulho, afinal seria minha primeira experiência em um lago gelado, mas eu certamente estava pronto para o que desse e viesse!

Björn, um alemão mergulhador como eu. Na mensagem ele me contou que, numa visita à loja de mergulho local, comentou que iria mergulhar em Erchinger Wehier para testar a vedação de sua roupa seca, e Torsten, o dono da loja  falou do meu interesse em começar a mergulhar com a comunidade, dai o convite. 

Para o mergulho usei o equipamento que eu trouxe do Brasil, alugando o que faltava na loja. Como já fiz mergulhos anteriores com roupa seca, foi mais fácil identificar o que eu precisava. O problema como sempre foi encontrar uma roupa seca com vedações adequadas pra mim — tenho um pescoço de frango, e por isso os selos de vedação padrão não servem em mim. Dai a solução foi utilizar uma roupa seca DUI, que permite a troca rápida dos selos de vedação. Por ser feita de nylon trilaminado, essa roupa me permite também maior flexibilidade de movimentos – porém seu menor isolamento térmico implica na necessidade de encorpar meu undergarment.

Os cilindros utilizados em mergulhos em águas geladas possuem torneiras T, para conexão de dois primeiros estágios. Essa é uma prática necessária pois sempre existe o risco de congelamento do regulador. Em conjunto, a válvula T e os dois reguladores garantem redundância no caso de falha de um dos reguladores.

Excepcionalmente para este mergulho eu fui com apenas um regulador, entretanto, para os próximos terei de utilizar dois — isso inclusive é lei em alguns outros pontos de mergulho por aqui. Este tema sobre as peculiaridades do mergulho em água fria vou aprofundar em um próximo post.

Assim, depois de três horas na loja conversando com Torsten e outros mergulhadores locais, finalmente consegui organizar meu equipamento: uma blusa e uma calça para esquiar junto de uma blusa e uma calça térmica formaram meu undergarment. Um par de meias finas, um par de meias de lã, e um par de meias de neoprene (sim, eu sinto muito frio nos pés), roupa seca da DUI, um par de botas para mergulho (a roupa seca vem apenas com um acabamento nos pés), um par de luvas de 5 mm, capuz com vedação no pescoço; Além disso, o equipamento de praxe: um cilindro de aço de 12 litros, asa, dez quilos de lastro integrado (que somados aos dois do back plate foram suficientes), regulador (um 1º estágio com dois 2º estágios), lanterna, Eze knife, bússola, deco marker e computador de mergulho.

O lago

Erchinger Weiher é um pequeno lago na região de Munique, na Baviera. Como a região fica cerca de 300 m acima do nível do mar, não sendo considerado mergulho em altitude, então não precisamos de maiores ajustes no computador. Relativamente raso, com profundidade média de 7 m, e possui três tablados de madeira de aproximadamente 9 m2 no fundo, a aproximadamente 4 m de profundidade, onde o mergulhador pode se ajoelhar e praticar o que for preciso. Por isso ele é muito utilizado com muita frequência pelos mergulhadores locais para práticas de certifcação Open Water, bem como para treinamentos em geral.

Uma curiosidade sobre esse lago é o fato de ele não estar ligado a nenhum riacho, sendo a água é proveniente de fontes minerais no subsolo, e toda perda de água ocorre pela superfície por evaporação.
A temperatura da água está sempre na casa dos 10 °C. Segundo me informaram mergulhadores mais experientes, mesmo nos dias mais frios do inverno (quando a temperatura do ar fica abaixo dos -5 °C), dificilmente a temperatura do lago abaixa além dos 8 °C.

O mergulho

Nos equipamos na margem do lago e caminhamos uns 8 m até conseguirmos uma profundidade de pouco mais de 1 m para iniciarmos nosso mergulho. A partir deste ponto a pronfundidade chega rapidamente aos 3 m. A visibilidade era muito boa, por volta 15 m. O fundo do lago nas partes mais rasas é de pedregulho, e aos poucos o fundo fica todo coberto de vegetação.
 
No meio dessa vegetação encontramos alguns lúcios (Esox lucius) — uma espécie de peixe de água doce, cuja flutuabilidade é de dar inveja. Eventualmente encontramos, nadando solitária e com ar de curiosidade, uma carpa (Cyprinidae) gigante (pelo menos para mim).
Encontramos também algumas curiosidades, como troncos de árvores, raízes de vegetação, uma árvore de natal e um carrinho da Ikea.
Ao longo do fundo coberto de vegetação, se formam algumas áreas cobertas por uma espécie de névoa nos locais por onde água mineral brota. E em um desses “nevoeiros”, eu olho adiante e não acredito no que vejo. Imediatamente começa a tocar em minha cabeça aquela música de abertura do Arquivo X. Uma silhueta misteriosa se delineava diante de meus olhos à medida que eu nadava através da névoa, já mais devagar (afinal o frio e o cansaço começaram a dar as caras). Até então achava que era lenda, mas diante de mim encontrava-se, revelado, o “Mistério da Bavária”. Inacreditável! Extasiante! Porém não conto nada mais. Vou deixá-lo curioso. Se quiser conhecer o “Mistério da Bavária”, vá mergulhar em Erchinger Wehier.
Ok, ok. Imagino que você deva estar curioso. Então, spoiler slert, ao final desta artigo coloquei uma foto do “Mistério da Bavária”.
Ao total mergulhamos por 56 minutos e voltamos à entrada com 65 bar. O que limitou esse mergulho foi a temperatura; minhas mãos estavam bem geladas (preciso providenciar luvas mais grossas ou luvas secas). Conversar com meu dupla foi complicado (e muito cômico) pois tive de dificuldade em articular as palavras; parecia que eu tinham tomado uma dose reforçada de Botox nos lábios, de tão “duros” que estavam devido à baixa temperatura.
Acabei gastando muito ar na brincadeira de inflar e desinflar roupa seca. Mas isso faz parte da aclimatação ao uso desse equipamento.
Parar quem quiser mais informações, infelizmente não encontrei material sobre este mergulho em português ou em inglês, somente em alemão. Este lago fica em uma propriedade particular, então é necessário pagar uma taxa para mergulhar  (EUR 8,00 por pessoa por dia). O problema é que esta taxa deve ser paga antecipadamente à viagem e apenas via transferência bancária. Mais informações podem ser encontradas no site <http://echingerweiher.simdif.com/>.
Resumo: Ótimo mergulho para todos os níveis, desde para uma prática até para um mergulho de diversão, como o meu.
 
O “Mistério da Bavária”